Explorando as Questões Teológicas: Graça Divina e Jansenismo
A reafirmação das questões teológicas fundamentais, uma marca da Reforma Protestante, trouxe à tona novamente o debate sobre a graça divina e a liberdade humana. Essas questões, que também foram estudadas por São Agostinho, foram retomadas pelos reformadores, que, baseando-se nas doutrinas de Agostinho, apresentaram uma perspectiva pessimista em relação à natureza humana e suas capacidades.
Essa complexa temática continuou a ser discutida dentro da Igreja Católica mesmo após o Concílio de Trento. O concílio, que tratou da cooperação entre graça e liberdade, deixou espaço para controvérsias futuras. Duas correntes notáveis surgiram a partir dessa discussão: o Baianismo e o Jansenismo.
Baianismo: Entre a Graça e a Natureza Humana
Miguel de Bay, também conhecido como Baius (falecido em 1589), era professor de Exegese Bíblica na Universidade de Louvain, na Bélgica. Buscando conciliar reformados e católicos, ele explorou escritos de São Agostinho, que eram respeitados tanto por Lutero quanto pelos reformadores. No entanto, sua interpretação peculiar de Agostinho levou-o a negar a natureza gratuita e sobrenatural do estado paradisíaco. Baius argumentou que a graça, os dons do Espírito Santo e a visão beatífica deveriam ser considerados como decorrentes da própria natureza humana. Ele também afirmou que a natureza humana estava corrompida pelo pecado original, tornando-se incapaz de realizar o bem e resistir à graça de Deus. Essas ideias tiveram adeptos e oponentes, gerando uma polêmica que culminou na condenação de várias proposições de Baius pelo Papa Pio V em 1567 e posteriormente por Gregório XIII em 1579.
O Jansenismo: Reavivando o Debate
O Jansenismo, originado por influências jansenistas, continuou a questionar a interação entre a graça divina e a liberdade humana. O professor Jansen, em busca de refutar os jesuítas, encontrou adeptos em Cornélio Jansênio e Duvergier de Hauranne. O movimento difundiu as ideias de Baius e defendeu uma postura rigorista em relação à moral cristã, com ênfase na graça divina. A publicação do livro "Augustinus" de Jansênio, em 1640, trouxe à tona os erros de Baius, reinterpretados sob a ótica de Agostinho. A controvérsia se intensificou, envolvendo bispos, teólogos e a Sorbona.
Após disputas e condenações papais, o Jansenismo persistiu na França e nos Países Baixos, desafiando a autoridade eclesiástica e civil. A controvérsia em torno das posições jansenistas envolveu até mesmo o rei Luis XIV. Medidas repressivas foram adotadas para conter a influência jansenista na França. No entanto, a tendência rigorista permaneceu na piedade popular até o pontificado de São Pio X.
A Igreja enfrentou um desafio semelhante na Holanda, onde o Jansenismo levou ao cisma. O arcebispado de Utrecht foi restaurado por jansenistas, resultando em uma igreja cismática que persiste até hoje.
Em resumo, o debate sobre a graça divina e a liberdade humana, reavivado pelos reformadores e posteriormente pelo Jansenismo, trouxe questões cruciais à tona. As interpretações variadas desses temas influenciaram profundamente a teologia e a história da Igreja, moldando a compreensão da relação entre a ação divina e a vontade humana.
Fonte: https://cleofas.com.br/historia-da-igreja-baianismo-e-jansenismo/