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Preterismo: Uma Visão Escatológica à Luz da Doutrina Católica

 O estudo das últimas coisas, ou escatologia, é uma área central da teologia cristã, especialmente no que diz respeito à interpretação das profecias bíblicas. Entre as abordagens interpretativas, o preterismo se destaca como uma perspectiva que compreende os eventos proféticos da Bíblia, particularmente os descritos no Apocalipse e nos Evangelhos, como acontecimentos já realizados no passado. Para os católicos, o preterismo oferece uma forma rica de entender a Escritura, mas deve ser equilibrado pela tradição e pelo magistério da Igreja.


O que é o Preterismo?

O termo "preterismo" vem do latim praeteritus, que significa "passado". Essa abordagem defende que a maior parte das profecias bíblicas, especialmente as relacionadas à segunda vinda de Cristo, ao juízo final e à grande tribulação, já foi cumprida nos eventos históricos do primeiro século da era cristã. Entre os acontecimentos frequentemente associados ao preterismo estão a destruição de Jerusalém em 70 d.C., o colapso do templo judaico e a perseguição aos cristãos primitivos.

Há duas formas principais de preterismo:

  1. Preterismo Parcial: Enxerga o cumprimento das profecias em eventos históricos passados, mas ainda espera a realização futura de alguns eventos, como a segunda vinda física de Cristo e o juízo final.
  2. Preterismo Completo: Argumenta que todas as profecias, incluindo a segunda vinda e o juízo final, já se realizaram no primeiro século, o que a Igreja Católica rejeita por não estar em conformidade com o Credo.

O Preterismo e a Doutrina Católica

A Igreja Católica adota uma abordagem equilibrada em relação ao preterismo, reconhecendo sua utilidade para compreender aspectos das Escrituras, mas rejeitando qualquer interpretação que contradiga as verdades da fé. A tradição católica mantém que algumas passagens apocalípticas, como as descrições da destruição do templo (Mt 24; Lc 21), de fato se referem a eventos históricos do primeiro século, mas não exclui um cumprimento escatológico futuro.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) afirma que a segunda vinda de Cristo será visível e gloriosa, marcando o juízo final e o estabelecimento pleno do Reino de Deus (CIC 668-682). Portanto, a perspectiva do preterismo completo, que nega a expectativa da parúsia futura, é incompatível com a fé católica.

Preterismo e o Apocalipse

No contexto do Apocalipse, o preterismo interpreta muitas das visões de São João como alusões aos eventos históricos que cercaram a queda de Jerusalém e a perseguição aos cristãos pelo Império Romano. Por exemplo, a "besta" mencionada em Apocalipse 13 é frequentemente identificada com o imperador Nero, e a destruição descrita no Apocalipse 18 seria uma referência simbólica à queda de Jerusalém ou de Roma.

Essas interpretações são úteis para compreender o contexto histórico das Escrituras, mas a Igreja alerta que o Apocalipse também contém dimensões espirituais e proféticas que apontam para a consumação dos tempos. O uso exclusivo do preterismo poderia limitar a compreensão da mensagem atemporal de esperança e triunfo de Cristo sobre o mal.

A Importância do Equilíbrio Interpretativo

Para os católicos, a interpretação das Escrituras deve sempre ser guiada pelo magistério da Igreja, que preserva a integridade da fé e a continuidade da tradição. A exegese católica reconhece o valor de diferentes abordagens interpretativas, incluindo o preterismo, o futurismo e o idealismo, mas rejeita interpretações extremas ou exclusivistas.

O Papa Bento XVI, em sua obra Jesus de Nazaré, enfatizou a importância de compreender a dimensão histórica das profecias de Cristo, sem, contudo, perder de vista sua plenitude escatológica. Esse equilíbrio é essencial para evitar tanto um reducionismo histórico quanto uma especulação desarraigada da realidade.

Conclusão

O preterismo, quando bem aplicado, pode enriquecer a leitura das Escrituras, ajudando os católicos a compreender o cumprimento de muitas profecias no contexto histórico do cristianismo primitivo. No entanto, a Igreja ensina que a segunda vinda de Cristo, o juízo final e a plena realização do Reino de Deus permanecem eventos futuros, aguardados com esperança e fé.

Assim, o preterismo é uma ferramenta valiosa, mas deve ser usado em harmonia com a tradição e o magistério da Igreja, sempre lembrando que as Escrituras, enquanto Palavra de Deus, transcendem o tempo e falam a todas as gerações de cristãos.